Início » Media » Em Louvor de Jaime Ferreri!

Antes de mais, deixem-me agradecer-vos a honra que sinto ao darem-me o privilégio de poder entrar nesta “Barca d’Ouro”, para aplaudir os 35 anos de escrita e de serviço à comunidade de Jaime Ferreri.

Celebrar, aplaudir este aniversariante, que é uma figura singular que se atreveu e conseguiu criar um universo literário que oferece a riqueza da eternidade e confere uma dimensão de intemporalidade universal a espaços, tradições, manifestações, vivências, da nossa terra e das nossas gentes.

Jaime Ferreri é o encenador, o diretor de atores, o contador de estórias, o animador sociocultural, o novelista, o cronista, o romancista, o
poeta, o cultor da nossa chieira…, o autor que, com a mestria do seu saber e a força da sua autoridade, preserva as nossas raízes, alimenta a nossa memória e os nossos saberes, e nos recorda, com a paixão que brota do coração, o cerne da nossa identidade, os tons do nosso imaginário, a matriz da nossa cultura.

Figura universal, ele é o artista de inspiração local, no nosso território, nesta Terra Danóbriga e nas suas gentes, cuja alma foi moldada, ao longo de séculos, pela água, pelos ribeiros, pelos rios, e pela montanha, pela rocha, pelo castro. A Danóbriga é a “Mátria deste autor”, o seu “lugar de encantamento”, onde a arte fecunda e a vida floresce.

Jaime Ferrei canta esta fecundidade criadora da Terra-Mãe, o regaço úbere da Mulher, o colo aconchegante da Mãe, a energia telúrica da Vida, a força arrebatadora do Amor – essa ponte mágica que nos projeta ao encontro da eternidade. 

Em busca da eternidade 

O desejo de eternidade parece-me, aliás, ber visível nas dedicatórias dos seus dois livros de poesia – “Pecúlio” e “Pé-de-Meia” – e também do romance “A Minha Filha Inês”.

“Pecúlio” (2005) é oferecido, e cito, “A minha mãe, o primeiro e perene amor da minha vida”. “Pé-de-Meia” (2020) é, por sua vez, dedicado “Ao meu filho, do corpo e da alma, Luís Miguel, pela bela e especial família que gerou e que me prolonga neste mundo e depois dele” Eis a riqueza que define Jaime Ferreri. A mãe é o seu verdadeiro pecúlio, a sua matriz, a sua raiz. E o seu filho e a sua “bela e especial família” são o seu pé-de-meia, o fruto cultivado, que o projeta para a eternidade.

Pelo meio, fica o canto sublime e encantado da “Mátria onde se fez gente”. O canto da terra onde baloiça o berço do seu nascimento, onde as raízes se fazem árvore frondosa, onde o amor gera vida, onde o rio e a serra e o castro e os penedos e as fontes fazem a sua e a nossa identidade e definem a nossa alma profunda, que herdámos da Deusa Mãe… E, com Danóbriga na alma, Jaime Ferreri teria ainda de celebrar a nobreza casta de “A Minha Filha Inês”, onde, de uma forma sublime, exercita, ficcionalmente, “a arte de fazer com que as coisas pareçam.”

O romance é “para a mulher de todos os nomes”, pois “foi por ti, para ti e contigo, mulher, que este livro apareceu”. “As mulheres amadas”, “a mulher especial”, a mulher violentada, “as mulheres que foram mães e simultaneamente pais”. “Aceita, MULHER, esta dedicatória embrulhada no carinho que minha MÃE, a genética, me transmitiu.”

Em dia de festa, o parágrafo final da obra faz, com eloquência, esta síntese. Permitam-me, por isso, que o partilhe convosco: “Há uma ternura imensa a tocar-nos, uma ternura no feminino, que nos vem da serra que de meninos corremos. Cada pico, cada forma arredondada em cocuruto, é o pedaço e a expressão da deusa mãe que em nós se entranha. E ainda que tivéssemos apanhado a vida com a gulodice dos deuses, que com Jacob instituíram o patriarcado pela tirania, no direito de só os homens representarem a tribo, reaprendemos em liberdade, com a montanha a servir de testemunha, a cruzar os dons que deles vieram (a Força, o Poder e o Saber), com o maior bem, o maior deleite, com a sabedoria integradora que a deusa mãe nos brindou: O AMOR!” Minhas Senhoras e Meus Senhores!

É assim Jaime Ferreri: para além de um arauto da cidadania e da liberdade, aplaudo, de uma forma especial, o cantor da Terra-Mãe, “no
sentir panteísta em que alguns poemas fluem nos sonhos e na cumplicidade do criador”. E também o poeta da vida, do Amor, que enche a alma! E também o cultor da sua terra, da nossa terra. 

É assim Jaime Ferreri… Obrigado, professor! Está tudo aqui, nestes 35 anos de escrita e de serviço à comunidade, e não há maior riqueza.. Parabéns! Muito, muito obrigado! “Ad multos anos”.

Luís Azeres – Notícias da Barca